terça-feira, 3 de março de 2015

Amamentação

Cá em casa, a bebé é amamentada exclusivamente com leite materno.
 

E eu andava, já há algum tempo, a pensar se havia ou não de escrever sobre este tema.
 
Entretanto fui a um almoço com umas amigas (já todas com filhos mais crescidos que a minha) e o tema da amamentação veio à baila. Todas elas (e também eu!), num ou noutro momento, tinham sentido constrangimentos associados ao dar de mamar. Constrangimentos estes provocados por pessoas em seu redor, ou seja, familiares, amigas e até profissionais de saúde, que certamente queriam o seu bem e que, partindo da sua experiência e conhecimentos, tentaram aconselhá-las. Estes conselhos surgiram depois de, por uma ou outra razão, essas pessoas concluírem que os bebés tinham fome. Daqui as conversas rapidamente se focaram na quantidade (insuficiente) de leite produzido, passando pela qualidade (fraca) do mesmo e terminando no... (milagroso) suplemento!
 
Esta conversa, juntamente com o facto de uma grande amiga minha ainda hoje sofrer por ter deixado de amamentar precocemente (quando o desejava tanto!), aliado a outros relatos de amigas que também passaram por dificuldades e aos imensos testemunhos de outras mães que tenho lido aqui e ali, fez com que decidisse partilhar a minha experiência.

Quero, no entanto, referir que não considero que o facto de amamentarmos ou não seja o que faz de nós melhores ou piores mães. Quem opta por não o fazer, ou é conduzido a tal pelas mais diversas justificações, poderá ainda assim desempenhar de uma forma fantástica o seu papel de mãe! O amor, esse sim é determinante! E a forma como cada um ama não é medida, no meu entender, pela quantidade de leite materno que disponibiliza ao seu bebé...

Assim, o que me leva a abordar este tema não é o querer convencer ninguém de que deve dar de mamar. É antes verificar que muitas pessoas queriam amamentar e não foram apoiadas para o fazer.

Como é que tudo se passou comigo?


A minha bebé mamou ainda na primeira hora de vida, durante o recobro (esse era um dos pontos do meu plano de parto). Acontece que fui aconselhada pela enfermeira a segurar a mama como na primeira imagem e, embora tivesse aprendido no curso de preparação para o parto que o deveria fazer como está representado na segunda, naquele momento não tive capacidade de pôr em prática estes conhecimentos e confiei no que me foi dito pela profissional de saúde que me estava a acompanhar. Coincidência ou não, a verdade é que a minha bebé não fez uma boa pega e fiquei com o mamilo direito magoado logo aí.

Durante o dia que se seguiu (ela nasceu de madrugada), assim que outra das enfermeiras se apercebeu de como eu tinha a mama, aconselhou-me a usar um bico de silicone. Eu assim o fiz, sem ter na altura muita noção de que tal poderia comprometer a pega que a minha bebé faria do peito.
A bebé foi mamando alternadamente de uma e de outra mama e, provavelmente porque continuei a segurar o peito com os dedos em forma de pinça, o mamilo esquerdo acabou por ficar igualmente com fissuras. 
Nessa altura, eu não sentia isso como um problema. Achei que era algo normal, que estava a acontecer porque a pele dos mamilos é sensível e que entretanto curaria. Estava imensamente feliz e não me sentia nada preocupada com quaisquer questões ligadas à amamentação!
 
Mas entretanto, à medida que as horas iam passando, vários enfermeiros iam passando pelo quarto para nos observar e  colocar as questões que lhes competem, nas quais se incluíam "há quanto tempo mamou?" e "durante quanto tempo?". Isto porque a bebé não poderia estar mais de três horas sem mamar e, se fosse necessário, teria de a acordar... Enfiada num quarto de hospital, quase sem dormir, completamente apaixonada por aquele novo ser e sem qualquer noção do tempo, como queriam que soubesse há quanto tempo e durante quanto tempo tinha mamado?! Tinha mamado na última vez em que acordara a choramingar e enquanto o desejou! A dada altura, dei por mim a tomar notas no telemóvel para não me esquecer... E aqui, sim, comecei a ficar stressada!

Para piorar a situação, à medida que as horas iam passando, mesmo depois de mamar, a bebé continuava com a boca à procura da mama. E, embora lhe oferecesse uma mama depois da outra, continuava a choramingar. Inicialmente eu achava que tal se devia ao facto de estar inquieta por ter recebido muitas visitas ao longo do dia e fiz ouvidos moucos aos comentários das mesmas, de que teria fome... Mas, nessa noite, a situação não teve melhorias, ela não parava de chorar, e uma outra enfermeira sugeriu que lhe dessemos suplemento até que ocorresse a descida do leite, alegando que o meu colostro não estaria a satisfazer a bebé. Comecei por negar (consciente do que tinha aprendido ainda durante a gravidez), mas, ao ver que a bebé continuava insatisfeita e com as normais inseguranças de quem acabou de ser mãe, acabei por ceder. Uma maminha, depois a outra e, se necessário, biberão no final!

E teria saído do hospital neste registo, comprometendo provavelmente todo o processo de amamentação, se não tivesse, na manhã em que tive alta, recebido a visita da neonatologista responsável pela alta da bebé. Se já então acreditava que nada acontece por coincidência, o aparecimento desta médica só veio reforçar a minha crença, pois foi portadora de uma mensagem que alterou de forma crucial o rumo dos acontecimentos.
Deu-me segurança ao relembrar-me que não existem leites fracos, que o colostro que estava a produzir era única e exclusivamente aquilo de que a bebé precisava... Se a bebé se mostrava insatisfeita, era porque não estava a obter todo o leite de que necessitava, em resultado de uma má pega. Quanto ao mamilo de silicone, não nos estava, a mim e à bebé, a ajudar em nada...
Ofereceu-se para me ajudar na mamada seguinte e eu, mesmo já tendo tido alta, permaneci no hospital para que tal acontecesse.
 
 
Ela ensinou-me a agarrar a bebé como na imagem, colocando o seu rabo na parte interior do meu cotovelo (dobrado num ângulo de 90°) e a sua cara apoiada na minha mão. O meu dedo polegar deveria ficar na parte de trás do pescoço da bebé, pronto para o empurrar no momento em que ela estivesse de boca bem aberta, de modo a abocanhar assim toda a auréola da mama. A outra mão seguraria a mama com os dedos polegar e indicador em forma de C.
 
 
Logo nesse momento, a bebé agarrou a mama corretamente. 

Já em casa, usei sempre esta estratégia, até o gesto de dar de mamar se tornar automático quer para mim quer para a bebé. Não voltei a usar o bico de silicone ou a oferecer suplemento à bebé. Ela fica satisfeita depois de mamar e está a crescer bem! As feridas nos mamilos demoraram cerca de três semanas a sarar totalmente (e consegui-o usando uma pomada aconselhada por uma amiga, Cicamel, num número de vezes ao dia superior ao recomendado, admito!). Foi doloroso, mas valeu a pena o esforço.
 
Agora já posso dizer algo que me parecia impossível de início: Adoro dar de mamar!
 
 
 
 

 

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